Holanda, 14 de agosto de 2016
De vez em quando, encontro umas pérolas em alguns sites internacionais que abordam o tema Autismo. Desta vez, dou-me ao trabalho de traduzir um excelente artigo de Herbert Erkelens para o site holandês, Nieuwtijdskind (Crianças New Age).
Alguns conceitos, descritos por diferentes pessoas neste texto, irão estimular o leitor a refletir sobre a possibilidade do autismo não ser uma deficiência e, sim, uma oportunidade (necessidade) do mundo de se corrigir.
Boa leitura,
Fatima de Kwant
‘Quando criança, senti a vida como algo muito pesado. Senti-me por vezes marcado e inseguro em algumas situações. As pessoas, os ruídos, e todos os estímulos sensoriais entravam muito forte dentro de mim e ocasionavam um caos na minha cabeça.’
Karin:
‘ Agora eu olho para as pessoas porque necessito da sua ajuda para viver e aprecio sua presença. Agora eu posso ver o mundo, a realidade que temos em comum. No nosso mundo eu sou o mais feliz. No meu mundo eu era o mais solitário. No seu mundo, eu era o mais ansioso.’
Wally Wojtowicz, jr.:
‘Eles são um presente, sem problemas. Eles trazem em si a dádiva de te conscientizarem de quem realmente vocês é. O maior presente que eles podem dar é quando sentimos o amor que são capazes de dar.’
Leslie Morrison, terapeuta comportamental:
O autismo tem várias facetas. Por isso fala-se de um Espectro do Autismo. O elo entre todas as formas do autismo é a diferença no desenvolvimento social e cognitivo em relação às crianças neurotípicas. O diagnóstico só é fornecido quando fica comprovada uma deficiência no trio: interação social, comunicação e imaginação, esta incluindo a compreensão de conceitos necessários para entender nossa complexa, moderna forma de viver.
A razão do conceito de deficiência é porque pessoas autistas possuem uma maneira diferente de processar informações em seus cérebros. Crianças autistas são, na verdade, crianças altamente sensitivas que não parecem filtrar a informação que entra em seus cérebros. Todas as informações entram e elas nem sempre sabem como discerni-las e selecioná-las. Sem ajuda eles podem ter muita dificuldade em conseguir isso, sendo, portanto, importante que eles se encontrem o mais cedo possível num espaço onde sejam estimulados a exteriorizar as informações.
Quando este processo de comunicação é colocado em funcionamento, o comportamento considerado como tipicamente autista pode desaparecer.
Frequentemente diz-se que pessoas autistas não são capazes de imaginar o que se passa na mente de outra pessoa. Eles seriam incapazes de se colocarem no lugar do outro, de deduzir seus pensamentos, sentimentos e intenções. Existem fortes sinais de que este pensamento não procede para a geração atual de autistas. Ser socialmente desajeitado não significa que não saibam se colocar no lugar de outras pessoas. Alguns têm inclusive bastante empatia, mas só exteriorizam esse talento ocasionalmente. Nos momentos cruciais podem demonstrar pena, solidariedade ou surpreender por sua capacidade de perdoar.
Crianças autistas têm, sim, problemas com planejamento, organização e controle do comportamento. Muitas vezes elas não têm uma visão global que os ajude a planejar a execução de tarefas dentro de um determinado tempo, e têm dificuldade de reagir de modo flexível às mudanças repentinas.
Principalmente no segundo grau, alunos autistas podem encontrar muitos problemas porque cada vez espera-se uma participação mais independente no aprendizado. O que eles necessitam, primariamente, é um ambiente claro e previsível onde possam aprender.
Acredita-se que alunos autistas usem mais o lado cerebral direito do que o esquerdo. O lado cerebral esquerdo é responsável pela capacidade analítica, verbal, sequencial e linear, enquanto ao lado direito cerebral trabalha mais sinteticamente, holisticamente e não linear. O talento linguístico expressivo são maiores do lado esquerdo. Alem do mais, o lado esquerdo também se destaca por ser melhor em somas, redação, leitura, lógica e pensamento abstrato. O lado direito é bem melhor em desenho e tarefas complexas onde o raciocínio espacial é necessário. Nosso cérebro esquerdo forma a origem da nossa sensação de tempo, enquanto nosso cérebro direito vive no aqui e agora.
Possivelmente, nosso cérebro não linear pode explicar o talento incomum das pessoas autistas. Um pequeno numero deles também possuem um talento incomum para a matemática. São os chamados “Savant”. Daniel Tammet diz no seu livro ‘Nascido em um dia azul’:
“Números são minha primeira língua, uma língua na qual eu penso e sinto. Acho emoções muito difíceis de entender e não sei como reagir a elas. Por isso uso números para me ajudar.”
Muitos talentos autistas permanecem desconhecidos quando o ambiente à sua volta não transpõe a lacuna da comunicação. Autistas não verbais vivem em silêncio porque lhes falta a capacidade de transmitir o pensamento em palavras e voz. Os que conseguem se comunicar através da Comunicação Alternativa, nos ensinam que têm uma língua própria, rica em imagens e que seu pensamento com outros autistas muitas vezes é telepático.
São tantas as crianças autistas nascidas, atualmente, que as causas tornaram-se temas de discussão, como diagnósticos aprimorados, poluição ambiental e vacinações. Partindo de um conceito espiritualizado pode-se imaginar que o autismo possa ser um passo à evolução da consciência humana. William Stillman, Asperger, considera a chegada em massa do autismo (epidemia) como uma reação espiritual a um mundo carente de correção. No seu livro ‘A alma do autismo’, diz:
‘Necessitamos de pessoas autistas e outras diferenças para equilibrar o mundo de um modo simples, não exagerado de emoção, trazendo o foco para aquilo que, de fato, importa.’
O autor Hans Lemmens declara em ‘O elástico entre corpo e alma’ que as crianças autistas têm uma encarnação solta e se encontram mais no espírito do que no corpo. O lado positivo desse pensamento é que estão mais perto do mundo espiritual.
O personagem adolescente de 15 anos, Michael, diz em ‘Autismo e a Conexão Divina’, de Stillman:
‘Minha escolha foi a de liderar as pessoas de volta à Fonte. Isso exige que eu mantenha minha própria conexão, o que implica que eu tenha um corpo quebrado. Eis a beleza do mistério: uma alma completa tem um corpo quebrado, e uma alma quebrada tem um corpo inteiro.’
Para muitos indivíduos autistas no centro do seu ser tudo gira em tono do amor. Eles têm uma capacidade inesgotável de demonstrar amor. Jen Wojtowicz, autora do livro ‘O Garoto que fazia as flores crescerem’, fala do irmão autista: “Como poderíamos ser como somos sem pessoas como ele? Se não tivéssemos a oportunidade de sentir um amor incondicional? Foi uma experiencia notável perceber que outras pessoas têm uma maneira de viver tão preciosa quanto a de qualquer outra pessoa normal, ainda que tão diferente.”
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Texto: Herbert van Erkelens
Fonte: http://www.nieuwetijdskind.com
Tradução: Fatima de Kwant
www.autimates.com
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Um atendimento com uma casa com moradia assistida como o exemplo da holanda para quando eu nao tiver mais aqui meu filho ter um amparo. Pois é o que mais me faz sofrer e pensar quem vai cuidar dele em minha ausência.
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Tomara que consigam a Moradia Assitida o mais breve, Aparecida.
Boa sorte.
Bjs,
Fatima
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Espetacular descrição de um perfil global do autismo numa dimensão dificil de encontrarmos nos conceitos mais convencionais, pobres e muito limitadores das reais potencialidades de um autista.
Sou grata por acidentalmente ou não, ter encontrado esta brilhante traduçao.
Só uma sensibilidade do entendimento global do ser humano na sua essência mais completa sera capaz de perceber esta forma tão especial de ver para além do socialmente formatado
. Importante se torna fazer um trabalho de acesso à posibilidade de abrir mentes e caminhos quer na estimulação quer no tratamento biomédico ,para a felicidade de todos.
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Obrigada, Maria Jose.
É um artigo que nos faz pensar, a todos.
Um abraço carinhoso,
Fatima
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Perfeito! Este artigo está totalmente de acordo com o livro ESPECTRO AUTISTA, DAS TREVAS AO ENTENDIMENTO. Entre outras coisas, a obra trata de SEIS CONTRIBUIÇÕES ESSENCIAIS DA CONDIÇÃO AUTISTA PARA A HUMANIDADE. Inclusive alguns trechos de cada capítulo podem ser lidos neste endereço http://danntell.wixsite.com/tellobras/espectro-autista
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Oi Daniel,
Conforme prometi pelo facebook, vou compartilhar seu site em breve.
Parabéns!
Fatima
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Querida Fátima,
Estou muito feliz em participar do Grupo Autimates. Através dele tenhoobtido muitas orientações valiosas de como conviver com a realidade autista de minha filha Mauren. Ela está com 12 anos. Tem muitas potencialidades, boa aprendizagem. Tem interesse por música, faz Canto e Teatro. Ela precisa destas atividades para a sua socialização, onde é a sua maior dificuldade. Ela se ressente por não ter amigos. Isto lhe causa problemas na escola, ela fica desmotivada de ir, porque sente-se isolada, triste. Ela já percebeu que alguma menina fica no recreio com ela por orientação das professoras. Pois ela é bem inteligente e já percebe este tipo de coisa.
Tenho pensado muito sobre isto. Porque a escola para ela representa um transtorno, uma ameaça à sua serenidade, à sua segurança e estrutura psicológica.
Percebo minha filha evoluir, progredir em várias áreas, está se mostrando capaz de compreender melhor o mundo, a vida, tem senso crítico, reflexão. Porém na escola, ela se retrai muito. Receio muito o retrocesso dela em função da escola.
Mas, vamos indo, sempre para a frente, lutando, vencendo barreiras. E o grupo ajudando muito com as valiosas trocas de experiências que recebemos ali.
Informação é tudo. E temos sempre que ir em busca de esclarecimentos.
Sejas muito feliz. Beijos.
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Obrigada, Crispina.
Sua filha está progredindo porque você acredita nela. Perceba onde ela se retrai; deve ser em lugares onde não se sente bem.
Fora da escola, faça possível que ela tenha contato com pessoas com quem se sente á vontade. Os autistas adoram estar perto de quem não tem preconceito e aprecia como são.
Obrigada por estar no grupo.
Com carinho,
Fatima