por Fatima de Kwant
Holanda, 21 de junho, 2019.
É do entendimento geral da comunidade do autismo que criar um filho autista é um constante desafio. Independente do grau, sua família é confrontada todos os dias com as limitações que a criança, adolescente ou adulto apresenta, tornando impossível o conceito de vida “normal.”
Em especial, o autismo severo com deficiência intelectual é, talvez, o mais urgente. Muitas crianças e adolescentes com este tipo de autismo, e ausência de linguagem, por exemplo, podem apresentar um comportamento bastante difícil, exigindo um acompanhamento profissional e serviço de apoio familiar intensivos. Apesar disso, o governo federal segue ignorando os direitos (humanos) destas famílias, atrasando todo e qualquer auxílio a quem precisa.
acontecer.
A reportagem do program de TV, Profissão Repórter, da última quarta-feira, 19 de junho, chocou o Brasil. A falta de tratamento adequado e de capacitação à família, mostrou imagens fortes do rapaz Andre Santos chega a ser acorrentado quando sua mãe, Marisa, se vê impossobilitada de conter suas fortes crises. Para quem nunca viu um caso de autismo bem severo, parece exceção e até exagero. No entanto, é bem mais comum do que parece. Por quê? Porque é o autismo que ninguém vê. O autista cuja família não tem condições financeiras, nem conhecimento para adquirir direitos. São pessoas rejeitadas pela sociedade e, não raramente, vivendo em cidades pequenas, já com poucos recursos para tratamento.
“Jovem de 19 anos com autismo severo e deficiência mental, porém com a libido sexual normal da idade estupra sua irmã de quinze anos.”
“Menina de treze anos com autismo é abusada sexualmente por rapazes vizinhos enquanto seus pais estão no trabalho.”
“Menino autista de 10 anos tem um surto repentino e agride fisicamente os irmãos mais novos, de 5, 3 e um ano de idade, acarretando na morte do último.”
“Autista adulto de 25 anos com autismo agride o pai, sem querer, durante uma crise, fazendo com que, acidentalmente, este perca o equilíbrio, caia da escada e morra ainda na ambulância. Sua mãe, assustada, não imagina como conseguirá dar seguimento à vida só, com o grande desafio e decide proteger a si mesma e a seu filho de um futuro sem perspectiva, matando-o e suicidando-se em seguida.”
Pais que, com a falta de assistência, se vêem obrigados a amarrarem os pés e mãos de seus filhos para poderem sair de casa para trabalhar. Casos extremos. Casos absurdos. Casos tirados da vida nada comum de algumas famílias de autistas.
A série de relatos pessoais é longa. São todos quadros que parecem surreais para a maioria das pessoas, mas que formam a dura realidade de centenas (senão milhares) de famílias, principalmente as mais simples, sem acesso algum a qualquer tipo de ajuda.
São histórias reais, carregadas de dor e sofrimento. São casos que só chegam a público quando já é tarde para se fazer alguma coisa.
São famílias que se envergonham:
- Por não terem condições financeiras que lhes possibilitem conseguir ajuda.
- Por não haver profissionais e centros capacitados a cuidarem dos autistas nas cidades onde vivem.
- Porque familiares e amigos se omitem.
Essas pessoas sofrem porque o governo brasileiro não se importa
A falta de atenção com os autistas é sentida não somente na rejeição dos inúmeros pedidos das várias comunidades (autistas e pais/mães de autistas) referentes à ausência de políticas públicas de proteção à pessoa autista, mas também pela ausência de compreensão das necessidades específicas de todos os cidadãos dentro do TEA – Transtorno do Espectro do Autismo.
O Autismo no Brasil está dividido. Tem o pobre e o rido. O cuidado e o descuidado.
O AUTISMO NO BRASIL SEGUE PEDINDO SOCORRO e aguarda,desesperadamente, o devido resguardo que lhes cabe por parte do município onde vivem, do governo do estado e do seu governo federal.
Leia também a parte 1 e parte 2 do tema “O Autismo no Brasil pede Socorro”.

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*Fatima de Kwant é jornalista, radicada na Holanda desde 1985. Mãe de um autista adulto, especialista em Autismo & Desenvolvimento, criadora do Projeto Autimates e ativista pelos Direitos das Pessoas dentro do Espectro do Autismo.
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