Espanha, 12 de agosto, 2017
Por Fatima de Kwant
Falar sobre as mães é fácil. Mãe é a matriz, o pilar na vida de uma criança. O pai é a segunda melhor opção, ou não? Quando uma criança tem mais desafios, geralmente é a mãe presente e o pai ausente. Nem sempre.
Homens e mulheres têm diferenças biológicas basais, como a taxa hormonal que influencia suas sensações e ações. Enquanto o estrogênio rege a vida das mulheres, a testosterona é o hormônio masculino que guia sua vida, bem mais do que muitos pensam.
Segundo a Teoria Mas1P da renomada cientista franco holandesa, Martine Delfos – do Autismo sob a Perspectiva do Desenvolvimento -, homens e mulheres (pais e mães) diferem no modo de reagir aos desafios. A psicóloga definiu um esquema de diferenciação entre ambos os sexos diante da maternidade e paternidade de um filho autista. Sendo assim, concluiu que o acúmulo de testosterona no nível sanguíneo masculino impulsiona os homens à ação em relação ao autismo. Já nas mulheres, o acúmulo é de adrenalina, levando-as frequentemente a externarem um maior passividade (aceitação), diante desse quadro familiar.
Enquanto as mulheres têm a tendência natural (hormonal) de fazer uso (inconscientemente) da estratégia nice or victim (boazinha ou vitima), os homens – provedores por natureza –, tendem a optar por atitudes mais ativas como, por exemplo, arrumarem um trabalho extra para ganhar mais e prover a família que, sem dúvida, vai ter muitos custos financeiros com adaptações para a vida com um filho autista. Muitos homens não conseguem expressar em palavras o que sentem por dentro. Ao invés de colocarem seus filhos sob as asas – como fazem as mães – procuram um modo mais “másculo” de ajudar. Assumem mais de um emprego para custearem terapias; deixam o poder de decisão do que deve ou não ser feito para as suas mulheres, dando a impressão de passividade, ou assumem uma postura mais contida, dando a impressão de serem frios diante do problema. Na verdade, muitos pais estão com tanto medo quanto as mães, mas sabem que precisam ser fortes, e fazem tudo para manterem esta atitude, dentro da família e fora.
Pais de autistas não são insensíveis, como muitas vezes aparentam. Além do mais, sofrem pelo julgamento da sociedade. Um filho diferente é um desafio enorme para quem esperou por um filho “perfeito”, igual ao dos amigos. É mais difícil para o homem expor sua dor do que a mulher. Mulheres “podem” chorar, desabafar e discursar abertamente sobre suas preocupações. Já o homem deve “ser macho”, aguentando a pressão sem externar o que sente, de acordo com a expectativa da coletividade..
A internet está lotada de blogs de mães de autistas (incluindo o meu); as redes sociais, também, cheias de páginas públicas de mães de autistas. Em comparação, pouquíssimas são as iniciativas dos pais que tornam público suas impressões sobre o autismo. Pena. Nós, as mães, adoramos ler as perspectivas dos pais. A sensibilidade feminina se emociona com a demonstração da vulnerabilidade masculina. Afinal, apesar das diferenças biológicas, somos todos humanos, com os mesmos sentimentos.
Pais de autistas aparentam não aceitar o autismo de seus filhos. Pode ser, pode não ser. A maioria dos homens tem a atitude básica de solucionar problemas. Dentro de uma realidade neurotípica, o autismo é um problema. As mães protegem seus filhos física e emocionalmente. Os pais os protegem ao reagir a tudo o que possa ser cobrado de seus filhos pela sociedade. Pais vão buscar soluções. Enquanto focados nestas respostas, podem parecer insensíveis, inclusive para suas esposas. É essencial que haja uma comunicação constante na família para que estas diferenças sejam compreendidas e acertadas. Ninguém precisa reagir igualmente ao mesmo problema.
Pais de autistas, sejam vocês ativos ou passivos, presentes ou ausentes, corajosos ou medrosos, cuidadores ou espectadores, provedores ou sofredores,
O autismo fará parte da sua vida para sempre. Seu filho será seu, eternamente. Ele é um pedaço de você. Além do autismo, existe um pequeno ser humano com muitas das suas características.
Ame-o.
Ame-se.
Participe da vida da sua criança do melhor modo que puder.
Deus te abençoe, pai.
Feliz dia dos Pais.
*Fatima de Kwant é jornalista radicada na Holanda, mãe de um rapaz autista e especialista em autismo, comunicação e desenvolvimento.
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Não vi comentários dos pais…o que reforça o texto…minha maior dificuldade é a imagem de distante perante minha heroina-esposa…nem sei o seria do meu filho sem ela…mas espero que ela entenda que nosso filho não tem duas mães…que o pai não terá exatamente as mesmas solucões que a mãe…e que Gracas a Deus as coisas são assim….
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Obrigada Cardoso.
Espero que mais pais se motivem.
Diga a sua esposa que vocies são diferentes no jeito de entender o autismo, só isso.
Grande abraço,
Fatima