Rio de Janeiro, 14 de abril, 2019
Por Fatima de Kwant

Os Caminhos do Espectro são longos, cheios de obstáculos. O Espectro do Autismo é extenso e com desafios dos mais severos e complexos, até os mais leves (e, às vezes, igualmente complexos). Caminhar pelo Espectro é sentir, ver, perceber todas as suas nuances. É parecer não ter problemas, até que algum aparece. É perder um comportamento, que prejudique o próprio autista, para ter mais qualidade de vida. É progredir, sem pressão, ou muita expectativa ansiosa das pessoas à sua volta. É o autista de alto funcionamento que não perde a criança que há em si. É o autista puro como uma criança, que reflete sobre problemas existenciais (mesmo os não verbais). O Espectro é fantástico. Apesar do nome remeter a algo sombrio e escuro, o Espectro do Autismo é luz.
Uma coisa é certa: quem entrou nesse Espectro não mais sai. O TEA não é uma casa onde se entra e sai quando se quer. É uma condição que milhões de pessoas no mundo têm, e não escolhem mudar de condição, apesar de poderem escolher progredir como ser humano, trabalhando nas suas dificuldades, fazendo uso de suas habilidades e controlando aquilo que lhes faz enfrentar problemas.
Eu tenho um filho autista. Ele se chama Edinho e tem 22 anos. Foi um autista, oficialmente, “severo” até seus 15 anos, quando recebeu seu segundo diagnóstico (autismo leve). Meu filho caminhou pelo espectro porque perdeu as características que o definiam como “autista muito comprometido”. Ele falou a primeira palavra aos 6,5 anos. Ele aprendeu a esperar por alguma coisa aos 8. Edinho aprendeu a se comunicar aos 12. Ele começou a estudar (aprender regularmente) aos 15. Meu filho CAMINHOU pelo lindo, mas sofrido TEA. De mãos dadas comigo, sua mãe. seu pai e irmãs, e os professores e terapeutas abençoados, meu menino se tornou um rapaz autista bem leve. Como assim, “bem leve”?
Edinho perdeu:
- estereotipias (foi naturalmente, sem pedirmos por isso).
- TOC- Transtrono Obssessivo Compulsivo (através da terapia cognitiva comportamental)
- medo (através do coach comigo, mãe e terapeuta)
- ansiedade (com suplementação e coaching comigo, sua terapeuta).
- inflexibilidade (através de coaching intensivo comigo, com reforço nas suas Funções Executivas/auto-controle)
Entre tantas outras coisas, meu filho perdeu as características que o impediam de ter uma visão ampla da vida, para seu próprio bem. Depois disso, sua personalidade amigável (gentil, empático, bondoso), que não tem nada a ver com autismo, mas com o jeito dele ser, o ajudou a se tornar uma pessoa querida e feliz que inspira coisas boas por onde passa. Quem vê meu filho por um tempinho, pode pensar: “Poxa, mas você não parece autista!” Ele não se incomoda porque ele não se incomoda com muita coisa – puxou à mãe. Porém, quem conversa com ele por mais tempo, percebe suas diferenças:
- no olhar
- na entonação
- num gesto
- num momento de muita pureza (para um rapaz de 22 anos)

Meu filho não saiu do Espectro.
Meu filho não quer sair do Espectro.
Eu não quero que meu filho sai do Espectro.
Ninguém que é autista sai do Espectro.
Crianças com atrasos de desenvolvimento com paralelos às características do autismo, podem estar fora do Espectro – porque nunca estiveram no Espectro.
*Fatima de Kwant é mãe de um autista adulto, escritora de textos sobre autismo, especialista em Autismo & Desenvolvimento e Autismo & Comunicação, criadora do Projeto Autimates, Ativista Internacional pela causa do Autismo. Reside na Holanda desde 1985. Casada e mãe de três filhos.
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