Holanda, 10 de abril de 2017.
Por Fátima de Kwant
Tradução de Renata Cardoso
Marcos Petry lança seu livro “Contos de Meninos e Meninas, Contos de Homens e Mulheres.”
Muitas pessoas com TEA reclamam por não serem ouvidas. Em todo o mundo há um vasto número de plataformas para autistas, a maioria administrada por pais de autistas e profissionais. Apesar de plataformas serem ferramentas imprescindíveis na militância pelo autismo, os que estão no espectro são igualmente imprescindíveis – as pessoas com TEA.
Por esse motivo, o Autimates oferece a eles um espaço para dizerem o que querem, o que pensam e como se sentem em relação a muitos aspectos da vida com o autismo.
A entrevista de hoje é com Marcos Petry, de Santa Catarina, Brasil. Marcos é um Autista de Alto Funcionamento. Ele se formou em Comunicação Institucional na Universidade UNIDAVI em 2014, e fez seu Mestrado em Design Gráfico e Produção em Publicidade um ano depois. Desde 2016, Marcos vem se colocando como um ativista por meio de seu canal no Youtube “Diário de um Autista”, o que resultou em muitos convites para palestras com temas como “Superando dificuldades” e “Possibilidades dentro do autismo”. Em 2016 Marcos escreveu o livro “Contos de Meninos e Meninas, Contos de Homens e Mulheres”. O talentoso jovem afirma que, além de escrever, a música também é para ele como um porto seguro por englobar as mesmas prioridades da escrita: ritmo, significado e a possibilidade de reflexão.
Autimates: Você prefere ser chamado de autista ou pessoa com autismo?
M.P.: Prefiro ser chamado de Pessoa Autista porque essa condição é uma parte de mim. Não é algo isolado, então não penso que “tenho” autismo, e sim que “sou” uma pessoa autista.
Autimates: O que o fez procurar por um diagnóstico? E como isso influenciou a sua vida?
M.P.: Uma amiga de nossa família que estudou deficiências notou várias limitações em mim. Principalmente em questões de interação e exploração do ambiente, e ela afirmou que poderia ser autismo. Minha família procurou pesquisar essa condição. Fui a muitos médicos mas nunca tive um diagnóstico preciso. O diagnóstico só veio quando eu tinha nove anos! Por isso perdemos grandes oportunidades de desenvolvimento da sociabilização. Como eu tenho uma lesão cerebral, acabei desenvolvendo habilidades mínimas de independência por meio do Método Glenn Doman que consiste em enviar estímulos ao cérebro a fim de que se desenvolva dentro dos padrões neurotípicos. Isso foi parte da reabilitação, que eu comecei bem cedo. Então eu digo que notei um pequeno impacto na vida diária. Na verdade, eu me adapto bem à maioria das situações! Hoje procuro estudar o autismo para me entender melhor a cada dia, e também poder ajudar outras pessoas autistas a se compreenderem. É o que faço por meio do conteúdo do meu canal no Youtube “O diário de um autista.”
Autimates: Quais são as maiores dificuldades que você tem como uma pessoa autista em um mundo neurotípico?
M.P.: Os maiores problemas que reconheço em um mundo neurotípico são: A falta de explicação nos hábitos diários. Por exemplo: “Por que preciso cumprimentar as pessoas tantas vezes se já percebi a presença delas?” ou “Por que preciso mudar de roupa? A roupa que estou vestindo é tão confortável”. Também tenho problemas com o ritmo: “por que as pessoas aumentam seu ritmo de fala?” “por que falam tão alto?”
Autimates: Cite um mito do autismo que você gostaria que não existisse mais.
M.P.: Gostaria de acabar com o mito dos “Gênios Autistas”! Nem todas as pessoas autistas são Gênios. Na verdade, menos de 1% dos autistas são Gênios.
Autimates: O que você acha que a sociedade pode fazer para ajudá-lo a melhorar a sua vida (e a de seus filhos)?
M.P.: Acho que a sociedade precisa estar ciente da questão da PAZ. Tudo deve ser informado à pessoa autista antes de acontecer. Se as pessoas aprenderem a ser um pouco mais delicadas e cuidadosas em relação ao autismo, seria um bom começo rumo à autonomia dos autistas.
Autimates: Como você acha que você ou outras pessoas com TEA podem ajudar uma sociedade neurotípica?
M.P.: Acho que pessoas com TEA pensam nos detalhes, enquanto as neurotípicas se preocupam com velocidade. As pessoas com TEA e as neurotípicas deveriam unir suas habilidades, gerando assim muitas oportunidades para todos!
Autimates: Você gostaria de dizer algo às pessoas em relação ao autismo?
M.P.: Eu gostaria de dizer às pessoas da área de Desenvolvimento de Produtos que, muitas vezes, os autistas têm problemas com design e funcionalidade. Eu diria: Por favor, desenvolvam algo mais simples ao invés de usar uma grande variedade de cores, formatos ou ângulos dentre as muitas opções de design, seja qual for o produto que você desenvolva. De talheres a carros, os autistas se sentem completamente perdidos! Por favor, criem algo objetivo, deixem o produto me mostrar o que fazer com ele. Como usá-lo. Autistas são objetivos!
*Fatima de Kwant é jornalista, mãe de um jovem adulto autista e especialista em autismo. Reside na Holanda desde 1985, e é ativista internacional do autismo através do Projeto Autimates. No Brasil, Fatima informa sobre autismo através do grupo do Facebook Autimates Brasil.
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