Por Fatima de Kwant
Contribuição: Athayleila Lira
Holanda, 23 de Maio, 2019
Um artigo recente (maio de 2019), publicado na Revista científica Autism, revela suposições que já vinham sido levantadas há alguns anos por cientistas, pesquisadores do TEA – Transtorno do Espectro do Autismo, de que pais e/ou mães de pessoas dentro do TEA têm uma alta probabilidade de possuírem, eles mesmos, diversos tipos de distúrbios de ordem psicológica, psiquiátrica ou psicossocial.
Segundo o texto original (disponível somente para assinantes), pais de crianças autistas experimentam altos níveis de estresse psicológico, porém, pouco se sabe sobre a prevalência de distúrbios entre os genitores. O objetivo da pesquisa – com revisão sistemática e meta-análise de prevalência – é a de calcular a proporção destes familiares que apresentam uma psicopatologia diferenciada, significante. A pesquisa inicial chegou ao montante de 25.988 artigos. Trinta e oito estudos com a amostra total de 9.208 pais foram incluídos na pesquisa final.
A média da meta-análise foi a de:
- 31% para distúrbios de ansiedade
- 10% para o TOC (Transtorno Obssessivo-Compulsivo)
- 4% para os Transtornos de Personalidade
- 2% para o alcoolismo ou abuso de substâncias químicas
- 1% para a esquizofrenia
O estudo apontou, ainda, uma significante heterogeniedade nestas categorias, demonstrando a necessidade de mais estudos que viabilizem o compreendimento das variantes que moderam esta psicopatologia parental. Os dados, acima, seguirão sendo estudados a partir da revisão sistemática da pesquisa.
Os métodos usados nesta revisão estão de acordo com o PRISMA (the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), ou seja, com comprovação científica.
Em 2014, participei de um Congresso Internacional, na Holanda, cujo tema era “Autismo – Transições no Contexto Social”. Neste dia, o cientista americano, Prof. John Constantino, Professor de Psiquiatria e Pediatria da Universidade de Medicina de St. Louis (EUA) e seu colega belga, o Dr. Jean Steyaert, Chefe de Psquiatria Infantil do Centro de Expertise Autismo (Leuven), sobre os primeiros estudos neste sentido. Entre outros, observaram a incidência de pais e/ou mães de autistas com as seguintes desordens:
- Tdha (Transtorno do déficit de Atenção com hiperatividade)
- Transtorno Bipolar
- Transtorno de personalidade Borderline
- Depressão crônica
- Distúrbios do Desenvolvimento (incluindo Autismo)
- Transtorno do Processamento Sensorial
- Transtorno Opositor Desafiador
Também foi observado, neste Congresso, que a Superdotação (em combinação ou não com os transtornos acima mencionados) também parece ser frequente em alguns pais ou mães de pessoas autistas.
Este artigo é estritamente informativo, e não tem a pretensão de assustar os pais e mães de autistas mas, exclusivamente, a de viabilizar informações com vista ao bem-estar da família das pessoas no TEA.
A população parental de crianças, adolescentes ou adultos autistas não precisa se alarmar, porém, em caso de dúvida, seria bom conhecer o estado da nossa sanidade mental, para o próprio bem e o de nossos filhos autistas, sem dúvida.
Referência do artigo:
Schnabel, A., Youssef, G.J., Hallford, D.J., Hartley, E.J., McGillivray, J.A., Stewart, M., Forbes, D., & Austin, D.W. (2019). Psychopathology in parents of children with autism spectrum disorder: A systematic review and meta-analysis of prevalence. Sage Journals; Nacional Autistic Society. DOI: 10.1177/1362361319844636
Estudo desenvolvido pela Universidade de Deakin, Instituto de Pesquisa Infantil de Murdoch e Universidade de Melbourne, na Austrália.
*Fatima de Kwant é jornalista, escritora de textos sobre autismo, especialista em Autismo, Desenvolvimento & Comunicação, criadora do Projeto Internacional Autimates. Reside desde 1985 na Holanda, casada, mãe de três filhos, o caçula, autista (22) que deixou o grau moderado e hoje é altamente funcional.
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