Holanda, 01 de maio, 2019
Por Fatima de Kwant
Recentemente o MMS – Mineral Miracle Supplement, também chamado de Master Miracle Solution, tornou-se (novamente) notícia no Brasil. Em 2016, a jornalista Fatima de Kwant denunciou às autoridades brasileiras tentativas de entrada do MMS no Brasil de palestrantes filiados ao Protocolo CD, um controverso processo alternativo que promete a cura do autismo, entre outros.
Na época, os produtores do protocolo CD já estavam proibidos de entrar e praticar o tratamento na Holanda, Bélgica e alguns outros países da Europa. No Brasil, tal protocolo seguia desconhecido e ganhava conhecimento no “underground”.
Sem encontrar apoio entre os ativistas do país em 2016, de Kwant, também ativista internacional pelos direitos dos autistas, ateu-se a impedir a entrada de tais palestrantes no Brasil. A criadora do CD, Kerri Rivera viu-se obrigada a cancelar sua palestra, fato que passou despercebido por toda comunidade. Logo após, a mesma sumiu do mapa, estando seu paradeiro incerto até o presente dia.
Há pouco tempo, a reedição do livro de Kerri Rivera (originalmente publicado no Brasil em 2016), sobre o MMS por uma conhecida livraria brasileira despertou a atenção de novos ativistas para um antigo problema: o MMS é usado à revelia das autoridades, não tem controle e coloca em risco a vida de muitas pessoas, entre elas, as crianças autistas.
o MMS não deve ser consumido, tampouco tolerado o tratamento.
No momento, o método é aplicado, indiscriminadamente, no “dark side” do autismo, através de venda de produtos ilegais e/ou prejudiciais à saúde, sem qualquer controle. A maioria desses produtos e serviços são comercializados em grupos ilegais de whatsapp, também já denunciados por Fatima de Kwant, no ano de 2017.
Uma coisa é certa: pais devem ser informados e protegidos dos malfeitores que se aproveitam da vulnerabilidade emocional, apresentando uma falsa promessa de cura.
Afinal, o que é o MMS?
O MMS consiste em dois componentes, uma solução de clorito de sódio (28% de clorito de sódio em água destilada; isso é quase o mesmo que alvejante industrial) e uma solução de ácido cítrico (50% em água destilada). desinfetante contra várias doenças. Quando ambos os componentes são misturados 1 a 1, é criada uma reação química a partir da qual o dióxido de cloro é formado, o componente “ativo” no qual o alegado efeito do MMS é baseado.
A Associação Holandesa de Alimentos NVWA emitiu um aviso para esta substância em 15 de março de 2018. Vários casos de efeitos colaterais (sérios) como fadiga severa, anemia hemolítica, hemólise grave, queimaduras gastrointestinais, problemas respiratórios, insuficiência renal, insuficiência hepática e pressão arterial baixa têm sido relatados em todo o mundo. O produto é promovido como um remédio para a malária, HIV, vírus da hepatite, gripe H1N1, o resfriado comum, acne e câncer e autismo. Não há evidência científica para qualquer efeito de cura. Isso faz com que o produto seja controverso, para dizer o mínimo. A clorita de sódio é um oxidante forte e pode, portanto, causar sintomas clínicos graves, bem como o clorato de sódio relacionado: metahemoglobinemia, hemólise e insuficiência renal. Uma dose de 10 a 15 gramas de clorato de sódio já pode ser fatal. Metemoglobinemia d(como consequência da ingestão de clorito de sódio) foi demonstrada em estudos anteriores em animais de laboratório (rato e gato) e estudos recentes da EMEA (Agência Européia de Medicamentos) confirmaram que a ingestão de clorito de sódio é idêntica à da ingestão de clorato de sódio em ratos, camundongos e gatos. o coelho e o meerkat verde.
A literatura médica descreve dois casos de intoxicação humana com clorito, um dos quais dizia respeito a uma criança que bebia de uma garrafa de Miracle Mineral Solution. A imagem era de fato muito semelhante ao quadro com intoxicação por clorato de sódio: metahemoglobinemia, hemólise, Coagulação Intravasal e insuficiência renal aguda. Por analogia com o clorato de sódio, pode-se esperar que 1 grama de clorito de sódio induza náusea e vômito e, no caso de deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, até uma hemólise com risco de vida.
Na sequência de um incidente, o Centro de Veneno Belga enviou um alerta em 29 de dezembro de 2009 para a Associação Europeia de Centros de Toxicologia Clínica e Toxicologistas. As autoridades competentes também foram informadas. Em 2010, após advertências sobre MMS, seguiram entre outras, as agências de drogas belgas francesas, e americanas.
Denúncia: Anvisa http://portal.anvisa.gov.br/denuncias
Referências:
Associação Holandesa de Alimentos e Mercadorias
Emergências Toxicológicas de Goldfrank, McGraw-Hill Professional, 8ª edição, ISBN 978-0071437639
https://www.poisoncentre.be/article.php?id_article=229
*Fatima de Kwant é mãe de um autista adulto, escritora de textos sobre autismo, especialista em Autismo & Desenvolvimento e Autismo & Comunicação, criadora do Projeto Autimates, Ativista Internacional pela causa do Autismo. Reside na Holanda desde 1985. Casada e mãe de três filhos.
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