Holanda, 19 de fevereiro, 2018
Por Fatima de Kwant
Na adolescência, tudo muda: o corpo e a mente. O adolescente autista passa pelas mesmas mudanças, ainda que com alguma diferença. Alguns podem ter as mudanças físicas sem estarem preparados, psicologicamente, para elas. O corpo muda e as sensações podem ser amedrontadoras.
O autismo é um distúrbio do neurodesenvolvimento. Sendo assim, a idade mental pode não acompanhar a idade cronológica. Entender isso é meio caminho andado. Não espere do seu filho o que ele não pode dar ainda. Imagine o adolescente de 14 anos com comportamentos bem infantis, de uma criança de 5 anos. Ao mesmo tempo, pode falar como uma criança de 7 e ter a inteligência de um adulto. Impressionante? Pois é: isso é autismo. A parte social e emocional podem ser mais atrasadas do que outros adolescentes ou podem Ser mais desenvolvidas, até.
Um adolescente está em busca da identidade como qualquer outro. Todo adolescente quer ser “normal” como qualquer outro. Apesar disso é importante conversar com o adolescente autista sobre seu autismo e a influência do autismo no seu comportamento. Vai ajuda-lo a compreender melhor a si mesmo.
Perguntas:
1- O que está bom e o que não está? Quais as dificuldades?
2- O que está atrapalhando este adolescente?
3- Aonde deve ocorrer a mudança?
4- Quem pode colaborar com a mudança?
Um adolescente com autismo na escola
A transição para o segundo grau é um grande passo. O adolescente costuma sofrer o desafio, nessa fase, no planejamento do trabalho de casa e dos contatos sociais. É importante que o professor e a escola saibam que o aluno é autista para fazerem as adaptações necessárias. Escolha o melhor momento, junto com a escola, para informar sobre o autismo do jovem aluno. Sugestões: um trabalho de pesquisa ou uma aula de sociologia , ou um poster na escola. Desse modo, o tema não precisa ser ligado diretamente ao adolescente autista.
Quando os colegas começam a perceber as diferenças no amiguinho, é um bom momento para explicar na classe o que é o autismo.
Preparação, explicações, e esclarecimentos sobre os códigos sociais
PREPARAÇÃO
A preparação para a adolescência é algo que os pais podem fazer antes que estas mudanças ocorram, com o mínimo de ansiedade. Antes de atingir a puberdade, os pais já podem conversar com a criança sobre as transformações que vão acontecer em breve, numa segunda fase. Há várias maneiras de se explicar isso, tanto para os jovens autistas verbais quanto para os não verbais, através de imagens, pictogramas, fotos, desenhos, libras, e demais métodos alternativos de comunicação.
CÓDIGOS SOCIAIS:
Por causa do autismo, pode ser que o adolescente tenha dificuldade em entender as regras não escritas na interação social. Explicação e “legenda” são importantes. Quando os pais nao conseguem fazer este trabalho, a ajuda de um coach pode ser uma boa opção.
AGRESSIVIDADE
Adolescentes podem ser malcriados. Autistas também. A diferença é que os autistas podem não entender a extensão do que falam e de como vai atingir os pais. Mas isso eles podem aprender.
Podem aprender a:
- Respeitar os pais
- Entender regras/limites
Agressões podem ser devido à frustração, ou falta de percepção. Os autistas, geralmente, não têm a intenção de ferir os pais.
DO ENSINO ELEMENTAR AO SEGUNDO GRAU
Mudança importante nesse período do ensino elementar ao do Segundo grau. Peça ajuda de um professor ou mediador. Ensine a essa pessoa de confiança o que o adolescente precisa na escola, assim como de suas necessidades especiais nessa fase. O adolescente autista pode ser calado, mas na sua cabeça pode haver um turbilhão de pensamentos. Fale sempre com ele, de preferência a sós.
Saber o que os filhos pensam é uma arte que muitas mães, por sinal, aprendem com a experiência. No entanto, nem sempre reflete a realidade. É importante saber o que se passa com o jovem para poder ajudá-lo.
- Tenha paciência com o adolescente.
- Não precisa aceitar agressões, mas gritar de volta geralmente não adianta, piorando a situação.
- Um time-out é o melhor nessa situação. O time-out é quando deixamos a criança em um lugar onde se sinta segura, onde possa se acalmar. Ao mesmo tempo, os pais têm também a chance de se acalmar. Depois do time-out, converse com o adolescente. Não se satisfaça com um “não sei”. Juntos, descubram o que acontece com ele (se é o problema está em casa, na escola, com os irmãos, com amigos, etc.
- Deixe que o adolescente perceba que você não está zangada, e que quer entender para poder ajudar. Deixe que ele saiba que pode sempre falar com você. E se não conseguir falar com você, pode falar com outra pessoa em quem confie. Dê a ele a sensação de que o que ele diz, importa. Evite superproteger ou tomar a frente, mas encontrar soluções juntos.
Pais têm a tendência de prestar atenção ao que está errado e a castigar. Troque por IGNORAR o que esta errado (na medida do possível) e a ELOGIAR o que esta certo. A pior coisa que o adolescente pode pensar é que é “um zero à esquerda”; que não faz nada direito.
PAIS SEM CULPA
Quando for necessário buscar ajuda, não se sinta culpado. Você quer o melhor para seu filho. Um bom coach pode oferecer este melhor.
Por fim, ainda que estejam no “olho do furacão”, tenham em mente que a adolescência passa!
*Fatima de Kwant é jornalista radicada na Holanda desde 1985. Ativista internacional do autismo e mãe de um autista adulto que saiu do lado sevro do Espectro para o mais leve.
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Aprendendo sempre para saber lidar com o meu neto Leonardo..
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Que bom, Silvia.
Grande abraçø.
Fatima